Uh, lá lá !

Paris é sempre bom. Melhor com céu azul e temperatura amena, como em meados de agosto, quando passei uma semana lá. Já fui a Paris com algum dinheiro, com muito pouco dinheiro, apaixonada e também curtindo a maior dor de cotovelo, mas nunca me diverti tanto quanto dessa última vez, graças a ele..., que é alegre, popular, tem consciência ecológica e ainda faz bem à saúde. Quer mais? Apesar de muito jovem é confiável, nunca deixa você na mão, funciona noite e dia e ainda leva a gente pra dançar. Sacou? É ele mesmo, o “Vélib”, sistema público de bicicletas de aluguel, de iniciativa privada, lançado há um ano pelo prefeito parisiense.
Quase tudo o que está aí em cima, você provavelmente já sabe; se não conferiu in loco, leu alguma das inúmeras reportagens veiculadas nos meios de comunicação de todo o mundo. E dizer que o “Vélib” leva a gente pra dançar, foi apenas um estratagema para atrair a sua atenção. A verdade, porém, é que, como o sistema público de aluguel de bicicleta leva o usuário vinte e quatro horas por dia a qualquer lugar dentro da cidade, leva também para as margens do Sena, onde, nas noites de verão, funcionam espaços de dança a céu aberto.
Nas três arenas construídas rentes ao rio, com arquibancada em forma de anfiteatro, a prefeitura promove bailes gratuitos de salsa, dança de salão e tango. O anfiteatro do tango é bem em frente ao ponto onde o Bateau Mouche faz a volta de 180 graus para retornar ao cais. Então, de repente, você está dançando e, entre um compasso e outro, leva um banho da água levantada pela manobra radical do barco de turistas. Aí, todos gritam “Uh, lá lá”. E Paris fica ainda mais Paris.
Mas o melhor da festa é ao final, pouco depois da meia-noite, quando a maioria dos freqüentadores monta em suas bicicletas e, numa alegria contagiante, vai embora pedalando pelas ruas da cidade. Pensei na hora como pegaria bem no Rio de Janeiro, onde é verão quase o ano inteiro, investir na possibilidade de substituir cada vez mais o carro pela bicicleta. E promover recreação gratuita em locais estratégicos a fim de incentivar o movimento noturno ao longo de toda a ciclovia.
É claro que existe a questão da segurança, que passa por um acordo entre governo estadual, poder judiciário e administração municipal, no sentido de depurar a polícia do Rio de Janeiro, pra começar. Por enquanto, é possível fortalecer o efetivo da Guarda Municipal e investir num código de conduta cidadã de respeito às leis que os próprios usuários de bicicleta divulgariam promovendo campanhas, maratonas e passeios coletivos. Além disso, a prefeitura poderia desenvolver um projeto para levar a ciclovia até a Central do Brasil e de lá adaptar uma linha de trem para uso exclusivo e permanente de ciclistas, atendendo a todo subúrbio carioca. Em Bogotá foi feito um esforço nesse sentido e hoje a cidade conta com 300 quilômetros de ciclovias, usadas principalmente por estudantes e trabalhadores.
Declarar guerra aos automóveis é tendência globalizada contra a poluição e o trânsito caótico das grandes cidades. Economizar fontes de energia hoje é questão, no mínimo, de boa educação. Governar para a maioria é uma imposição da atualidade. E como proporcionar diversão ao ar livre sempre foi vocação da Cidade Maravilhosa, não vejo porque perder a oportunidade nestas eleições de exigir que os candidatos a prefeito apresentem idéias e soluções para elevar a qualidade de vida da população e apurar o ar que o carioca respira. Assim, como os parisienses fazem agora, acabaríamos por recuperar nosso bom humor e, quem sabe, voltaríamos a saudar até os percalços da vida. Ou não é essa a nossa verdadeira índole?




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Uma correção: o Mar Morto está a 412m abaixo do nivel do mar.

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