Ainda Tel Aviv

Tel Aviv tem aproximadamente trezentos e setenta mil moradores, em grande parte jovens da segunda geração de israelenses, além da moçada que vem de todo o mundo para aperfeiçoar aqui o hebraico, ajudar na construção do país, ou mesmo – os de origem mais ideológica – alistar-se no serviço militar.
A cidade nasceu no início do século passado a partir da criação do sionismo; o movimento de caráter nacionalista que instou o povo judeu a construir uma pátria na região onde viveram seus ancestrais. Portanto, a Tel Aviv já existia quando foi fundado o Estado de Israel, em 1948, e guarda características da arquitetura modernista da primeira metade do século vinte. O bairro Branco é reminiscente dessa época. Ele é cortado pelo belíssimo bulevar Rothchild, com um largo canteiro central ornamentado de tamareiras e flamboaiãns, ladeado em toda a sua extensão por prédios de até quatro andares – todos brancos – construídos no mais puro estilo Bauhaus. Muitos dos prédios estão em obras de restauração, pois a região vem passando por um processo de revitalização dede que há mais ou menos uma década foi descoberta e invadida pelos artistas seguidos de gente rica e sofisticada, agora disposta a pagar uma nota preta para morar ali. Com a valorização imobiliária vieram os investimentos em lazer e serviços que transformaram a região no mais transada da cidade. Com quiosques chiquérrimos espelhados pelos canteiros centrais do bulevar, bares e restaurantes cheios de bossa e até champanheria. E tudo na maior descontração, com muita gente relax, conversando e bebendo pelas calçadas à noite e de dia, sentada com seus laptops nos inúmeros cafés que além de ar-condicionado, oferecem wi-fi de livre acesso para os fregueses. Pra mim, é um lugar próximo do paraíso (lembrando que a praia é logo ali).
Nosso hotel fica mais ao centro, numa área que deveria ser ainda mais valorizada, dada a proximidade com a orla de areia alva e o azul místico do Mediterrâneo. No entanto o que se vê no caminho até a praia são prédios de poucos andares em péssimo estado de conservação. À noite, durante jantar com o embaixador do Brasil em Israel, Pedro Coelho, comentei com sua esposa e secretária cultural da embaixada, Moira Coelho, o quanto aquele fato me intrigara. Ainda mais sendo esta a região dos melhores hotéis na cidade, como o Renaiscence e o Shaeraton. Moira, uma adorável carioca disposta a fazer com que a delegação brasileira tivesse a melhor acolhida em sua estada em Israel, prontamente me contou que, no início do sionismo, famílias judias da Europa compravam em quantidade pequenos terrenos nesta região para ter “pedacinhos da Terra Prometida.” Aconteceu que o Holocausto da Segunda Guerra Mundial acabou por dispersar esses proprietários e seus descendentes, os quais nunca apareceram para reclamar seu legado e dificilmente são encontrados agora pelos advogados especializados e empenhados em promover transações imobiliárias em Tel Aviv. Portanto, a maioria desses prédios é habitada por quem não tem interesse econômico no imóvel. Por um lado é uma pena, pois a região poderia ser muito mais bem conservada aproveitando o seu charme natural. Por outro, freou a especulação imobiliária que tiraria, principalmente, da avenida beira-mar a aparência adorável de uma Copacabana dos anos 50.

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