Pôr do sol no Arpoador

Depois de um longo e adorável invernico em Teresópolis, onde passamos Natal e Réveillon, resolvemos tomar uma prize de Rio de Janeiro e fomos ver o pôr do sol no Arpoador. Foi no último domingo. Já era tarde, início da noite, e no entanto o sol parecia ir ainda alto, dada a intensidade da luz. Vinhamos de Copacabana e, por volta das dezenove horas cruzamos a Francisco Otaviano, no sentido de Ipanema. Em sentido contrário vinha um mundo de gente deixando a praia. Eram grupos só de rapazes ou só de moças, outros mistos e de idades variadas, pais e filhos, famílias inteiras, avós,tios, madrinhas e padrinhos, crianças de colo ou bem pequenas se entrelaçando nas pernas dos adultos, mulheres velhas de fio dental e muito, mas muito sacolé. Enfim, uma turba barulhenta que se deslocava atabalhoadamente pelas calçadas do bairro, sem tomar conhecimento dos outros, os que vinham ordeiros rumo ao seu banho de mar. “Um choque cultural brutal para o morador de Ipanema!”, foi a primeira coisa que pensei. Mas como é de meu feitio e tendência ideológica, imediatamente tentei argumentar> “ Apenas pessoas alegres que trabalharam a semana toda e agora tem seu momento de distensão.” “...talvez mais honestas do que muitas das de nossas relações.” “Gente que respeita a família e não cobiça a mulher do próximo, por exemplo.” “Afinal, todos têm direito a essa praia, ora bolas!” E nesse exato momento passa ao meu lado uma jovem mãe falando ao celular com a criança no colo, que estica o bracinho tentando pegar o aparelho. E ela berra no ouvido do pequeno que vai levar “porrada” se continuar a "zoar". E foi tanto palavrão e grito pra criança que eu desisti na hora de defender os “visitantes”. Sem mais palavras chegamos ao nosso destino. A areia ainda apinhada de gente. Esperamos com uma cervejinha no quiosque até que vagasse lugar. E antes do pôr do sol tomamos um delicioso banho de mar. Depois vinham chegando os amigos, um papinho aqui, outro ali, na beira do mar. Cada qual contando seu réveillon. E mais um pouquinho, e pimba!, o sol caiu dentro d'água, como uma gota de ouro em veludo drapeado. Apareceu no céu um filete de lua branca e a primeira estrela despontou. Um último mergulho afogou de vez a lembrança da nossa traumática chegada. Voltamos pra casa alegres, fazendo planos de desbravar esse caudaloso Atlântico Sul.

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