E o país do futebol caiu na real.



Quando foi anunciada a realização da Copa do Mundo no Brasil, em dobradinha com os Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, a Zona Sul foi, em peso, para a orla comemorar. Foi um carnaval fora de época, com buzinaço, cervejada, azaração e euforia desenfreada pelas ruas de Ipanema e Copacabana. A televisão mostrou que na Tijuca e adjacências a euforia também foi geral.

A torcida começou na transmissão pela televisão da disputa pelo país que seria anfitrião da copa, acompanhada como se fosse a própria final do campeonato. Não deu outra, o tempo foi passando e as consequências foram pesando no bolso dos torcedores. Com a baita divulgação do país e da cidade na mídia do mundo todo, e a crise econômica na Europa, o turismo explodiu por aqui. E os preços dos serviços também.

Os imóveis foram os primeiros a refletir o entusiasmo pelo Rio com o aumento de 75% em seu valor, e não só na Zona Sul. É claro que a pacificação das favelas ajudou. Mas apenas ela não faria esse verão todo, da mesma forma como as andorinhas precisam de seus pares para aproveitar as delícias da estação. E com a valorização dos imóveis (boa para os proprietários) veio o aumento abusivo dos alugueis; péssimo para os inquilinos.

Ficou tudo caro na cidade, e os jovens de classe média, além de enfrentar a carestia do presente, começaram a se frustrar com as parcas expectativas de, num futuro próximo, sair de casa, constituir família e arcar com saúde e educação de filhos. O desencanto associado ao noticiário da corrupção que graça pelo país nas diferentes esferas de poder, a inflação mostrando a carranca, a péssima qualidade dos serviços públicos, a divulgação dos gastos do governo na construção de novos estádios, agravados pelo escárnio que representa a exigência do padrão Fifa de qualidade, acabaram por criar o caldo de cultura que levou às manifestações dos últimos dias. Louváveis, diga-se de passagem. E adoráveis nas mensagens dos cartazes, tais como: “Da copa eu abro mão. Quero saúde e educação”.

Mas o grande sucesso da temporada de protestos, que se convencionou chamar de “primavera” em todo o mundo, deve-se, além de vir de encontro aos sentimentos da maioria dos brasileiros com nível razoável de informação, ao fator surpresa. E isso ficou muito claro para quem acompanha a programação da TV Globo.

Primeiro foi anunciado no Jornal Nacional o espetacular esquema de cobertura da Copa das Confederações, com repórteres espalhados pelo país, moderníssimas unidades móveis de transmissão e arrojados efeitos especiais que recriam a imagem perfeita de jogadores nos estúdios da emissora. Uma parafernália do tipo Jornada nas Estrelas.

E anteontem estava lá em Fortaleza o Willian Bonner com cara de bobo, visivelmente amuado com o esvaziamento da importância jornalística dos jogos frente às gigantescas e surpreendentes manifestações do MPL, no Rio de Janeiro, em São Paulo e Belo Horizonte. Mesmo mantendo a elegância que lhe é peculiar, o apresentador do JN não conseguiu disfarçar o despeito em relação à colega de bancada, a linda Patrícia Poeta no comando da situação.

Ontem, Bonner estava flagrantemente nervoso, deixando transparecer o quanto o ambiente andava pesado na emissora em relação à sua volta, apressada e imprevista, do Ceará. Sobrou para o Galvão Bueno que não conseguiu disfarçar o constrangimento frente ao anúncio de Bonner de que o locutor esportivo iria, daí em diante, substituí-lo na cobertura dos jogos.

Moral da história: o futebol é mesmo uma caixinha de surpresas.





Ultimos Capítulos de Salve Jorge

Agora que Salve Jorge está chegando ao fim, vale a pena tecer alguns comentários. Não me animei antes porque esse texto não é de animar mesmo. E digo texto por ser onde tudo começa. Não adianta ter bons atores escalados se as falas são ruins e, em alguns casos, podem inclusive derrubar o desempenho de veteranos. Veja o caso da atriz Zezé Polessa tendo que dar seu recado num português entremeado a expressões em turco. Ninguém merece. Um desastre também para Antônio Calloni, que só recentemente, quando seu personagem veio para o Rio de Janeiro, e o conflito do roubo da criança se estabeleceu, pôde mostrar toda a sua técnica e exercer seu talento.


Numa novela, a trama também é de extrema importância para o desempenho do ator. É, em última instância, o que justifica a escalação dele para um dos núcleos, que em Salve Jorge são desnecessariamente muitos. E aí, uma atriz tarimbada em televisão como Nívea Maria fica sem função durante oito meses, até aparecer no último minuto do segundo tempo o desfecho de um caso mal levado pela trama, e que por isso mesmo não criou suspense e não fisgou o espectador. Valeu apenas para a atriz dizer a que veio. Mas Stenio Garcia, coitado, ficou a ver navios nessa história.

É claro que Salve Jorge sofreu a desvantagem de substituir a excelente Avenida Brasil na grade da Globo. E trouxe, para a audiência das nove, gente como eu, que não costumava assistir TV aberta, muito menos novela. Mas peguei o gosto e hoje sinto falta de uma ficçãozinha televisiva bem alienada para dar aquela relaxada no fim do dia.

Também é claro que o folhetim de Glória Perez teve seus pontos positivos. Não por conta da conscientização a respeito da existência de redes de trafico humano, e sim pelo garantido apelo de uma trama policial bem desenvolvida, e valorizada, neste caso, pela interpretação carismática e beleza estonteante de Giovanna Antonelli. Para mim, a delegada é a verdadeira heroína da história, já que o perfil da protagonista Morena é mal delineado. Falta-lhe a fragilidade e inocência para fazer crer que foi ludibriada. Logo ela, ex-mulher de traficante, quase atiradora de elite, e descolada nas manhas do Alemão. “Me poupe!”

Mas vamos aos últimos capítulos que estão confirmando Thammy como a grande revelação do ano em matéria de novela. Na noite de ontem ela deu um show com o número de dança na boate. Linda, sensualíssima, charmosa e adoravelmente maliciosa. E não podemos esquecer o quanto o ator Adriano Garib, no papel de Russo, colaborou para elevar aquela cena ao ponto alto do capítulo, e num dos melhores momentos de toda a novela. E na cena seguinte lá estava a mesma Thammy transformada em policial. Sem glamour, sem maquiagem, despida de qualquer feminilidade, e mesmo assim sensacional.

Bem, por hoje é só. Vamos aguardar o capítulo final da novela para novos comentários. Até lá.