A mais pura curtição...

Faz pouco mais de um ano que fui pela primeira vez ao Estúdio 260 para assistir a uma mostra de curta-metragem sobre o tema Poesia, e nunca mais deixei de freqüentar o lugar. Naquele dia, depois dos filmes, houve um debate e eu, por vício de ofício, meti-me a organizar a conversa, e acabei me transformando em mediadora informal das sessões que aconteciam ali a cada quinze dias. Informal, porque tudo o que pode ser informal no 260 o é, e eu jamais iria contrariar aquela vocação.
Pra começar, o Estúdio fica em Santa Terasa, onde você vai por curtição ou não vai. Funciona em uma casa ampla, com uma bela piscina no meio de um pátio debruçado sobre a vista deslumbrante da baia de Guanabara, com Pão de Açúcar ao fundo e tudo o mais. Uma mangueira vaidosa arremata a paisagem. O ambiente é de uma descontração irresistível, gente de todas as tribos é sempre convidada, e o pessoal confraterniza mesmo, troca idéias, experiências.
Isso aconteceu, novamente, na sexta-feira, na abertura da exposição INCLUSIVE CIDADE ALTA E MARÉ. Os artistas dessas duas comunidades, na Av. Brasil, estavam lá para mostrar e conversar sobre seus trabalhos de pintura, desenho, grafite, e foto sobre lona. Eles tiveram formação nas oficinas de arte mantidas pela ONG-Ação Comunitária do Brasil-(ACB), que atua nessas comunidades há 40 anos. Na exposição, pode ser visto o vídeo feito no dia em que os artistas desenvolveram seus projetos no próprio Estúdio. A mostra vai até o dia 6 de abril e as visitas podem ser agendadas pelos tels: 93224284, Fabiana; 91057082, Lena. Não Perca!

Da série Heróis

Quando escrevi o texto anterior, não dispunha dos nomes dos franceses assassinados no início do mês, em Copacabana. Era tarde e não consegui a informação naquele dia . Uma amiga me mandou hoje por e-mail os nomes dos saudosos Delphine, Cristian e Jerome. Eles fundaram a ONG Terra Ativa para dar oportunidades a crianças abandonadas e carentes da cidade do Rio de Janeiro.

Quem são os nossos heróis?

Outro dia, recebi por e-mail uma apresentação em power point e achei importante divulgá-la. Repassei-a para minha lista de amigos e obtive um retorno surpreendente, inclusive das pessoas que moram fora do Brasil. Isso aconteceu na semana seguinte aos assassinatos do menino João Hélio e dos franceses fundadores da ONG dedicada a atender menores carentes. Eu quis aproveitar a comoção nacional naquele momento para propor uma reflexão sobre desvios na escala de valores de uma sociedade, e as suas conseqüências.

A apresentação trazia em destaque a frase infeliz com que Pedro Bial saúda os participantes do BBB, chamando-os de heróis; questionava o internauta sobre quem, de fato, merece tal tratamento; e citava pessoas desconhecidas do grande público, mas verdadeiros heróis e heroínas por dedicar a própria vida para salvar a do próximo, e do distante também.

Um exemplo é a Drª. Vanessa Remy-Piccolo, jovem pediatra francesa de 28 anos. Ela abriu mão do seu conforto para servir na África, como voluntária do programa Médicos sem Fronteira. Outro, é Jacinta, enfermeira do Projeto Meio-fio, que atende moradores de rua no centro do Rio.



Volto ao assunto agora porque li nos jornais de hoje uma infeliz declaração do presidente Lula. Ele disse que os usineiros, um dia vistos como “bandidos do agronegócio”, se transformaram em heróis nacionais. Isso, uma semana depois de afirmar que os ministros no Brasil são verdadeiros heróis por aceitar trabalhar pelo salário de oito mil e poucos reais.

Pra mim, alguma coisa está fora de ordem... E pra você?

Viva o tempo ruim!

Hoje eu saí de casa carregando um grande guarda-chuva xadrez . Deixei o carro longe dos lugares para onde fui e, já que o tempo estava "bom", usei o acessório como se fosse bengala. Lembrei que conforto e segurança eram motivos pelos quais os senhores antigos usavam guarda-chuva como peça do vestuário (D. Pedro II , por ex.). Isso porque foram tantos os obstáculos e acidentes no meu percurso que o guarda-chuva/bengala acabou dando uma mão. Vai você andar rápido pelas ruas esburacadas do centro da cidade sem tropeçar e arriscar a integridade da sua rasteirinha-preferida...
É claro que tive que passar por pelo menos um constrangimento. Foi de noite, no curso de cinema, quando um professor sacou o exagero e me lançou um olhar desdenhoso, como quem diz: "Essa aí tá chuleando tempo ruim." "E estou mesmo", pensei na mesma moeda. Vou responder na próxima segunda-feira com meu sorriso triunfante. Tomara que continue chovendo até lá!

Praça XV

Às seis e meia da tarde de ontem, tive que dar três voltas na Praça XV para conseguir estacionar o carro numa área a cargo da prefeitura, embaixo de um viaduto, em cima de cascalhos de entulhos espalhados na pista, e ainda tive que escalar escombros para sair no beco ao lado do prédio da Bolsa de Valores. Meu destino era a escola de cinema Darcy Ribeiro, então, cruzei para outro beco e fui me embrenhando pelas ruelas coloniais, justamente na hora em que tudo ali passa por uma transformação frenética; nos dez ou doze minutos que leva o trajeto, acompanhei as mudanças no elenco, na cenografia, na luz e na atmosfera do lugar. E não é papo de sinestesia não, senti mesmo o fedor que escorria pelos paralelepípedos dos antigos logradouros ser contido pelo cheiro frio das bebidas saindo dos bares nas bandejas dos garçons desodorizados e gomalinados como manda o figurino do turno da noite; cheiravam bem também as meninas em fim de expediente, e as não tão meninas assim salpicavam de sorrisos e decotes as mesas de plástico que transbordavam das calçadas para o meio-fio. Vi um bando de jovens engravatados, todos muito parecidos, levantar tulipas de chope como se fossem troféus; vi grupos de gente de todas as cores bebendo na mesma garrafa; vi turistas muito brancos se encharcando de caipirinha; vi o garoto do amendoim conversar com o mendigo travesti, e até uma corcunda namorando agarradinha. Cheguei à primeiro de março e nem olhei pra trás..., vai que viro estátua de sal.

Tudo cansa

Tudo cansa, até o que é bom, inclusive o tempo bom. Quero as águas de março pra fechar esse verão que nunca acaba de céu azul, nuvenzinha transparente e noites coradas de eclipse interminável. Quero beber brisa fria pelo gargalo... quero chuva fina me fazendo cafuné... um pé encostado no outro, debaixo do cobertor.

Inauguração do Blog

... emergindo de um longo e escaldante verão para a temporada no ar condicionado resolvi que não vou tomar um chope, não dá para ir à praia, não fui à passeata, não quero ir ao cinema, o telefone esquenta a orelha, o sorvete aumenta a sede, a impaciência não deixa esperar por temperaturas mais amenas e humanas e, na frescura do meu escritório, inauguro este blog pra falar com você.