Perfil

por Armando Nogueira

Campeã de perfil grego

O assunto não tem nada a ver com esporte, mas bem que poderia ter. Olha, só: restaurante no Leblon, mesa ao lado da minha, vejo Leila Richers, um rosto que a televisão ostenta como prova de bom gosto. Vejo, não; contemplo – eis que a beleza só admite olhar de encantamento. Penso, bem baixinho, pra ela não perceber que eu e meu pensamento estamos falando dela. Questão de pudor, timidez - sei eu!

Como é que se explica não pertencer ao esporte uma criatura, assim, de talhe tão olímpico? Seria uma campeã, com toda certeza. Se nadasse, nadaria melhor que todas porque sua pele, alva e profunda, fluiria em água de rosas, que é mais leve. Se preferisse o vôlei, seria levantadora pra jogar o tempo todo olhando pro céu, de onde provém o milagre de seu perfil grego.

Fosse qual fosse o esporte, ela haveria de vencer, sempre, porque o triunfo não resiste a uma mulher bonita. E, então, a campeã da mesa ao lado conquistaria todas as medalhas que o esporte inventasse; e receberia braçadas de rosas de todas as multidões; e o pódio mais alto haveria de reverenciar-lhe a realeza, feito súdito. E se alguma vez, por sortilégio do esporte, ela perdesse uma prova, seria eternamente consagrada pelo perdão nacional.

Que bom, pelo menos, eu não precisaria forçar a barra como faço, agora: ela frequentaria, naturalmente, esta coluna, que só cuida de esporte, acolhida pelos leitores entre sustenidos de mil clarins.

Publicado no Jornal do Brasil, em 16.07.2000