Amiga das Amigas

Posse de secretário de estado é sempre um porre. A não ser que seja de um parente e o sujeito aproveite a oportunidade para tomar-lhe um tostãozinho da honraria. Aí, pode fazer calor de até 40 graus que o cara vai com prazer, todo enfatiotado, receber parabéns por tabela. Ou então é posse de pessoa querida, daquelas que não deixam poder algum mudar-lhes o caráter afetuoso, não são de se deslumbrar, e nem se levam demais a sério. Esse é o caso da nova secretária estadual de cultura e por isso sua posse ontem, nos jardins do Palácio Guanabara, foi um programa bem legal.

O cenário era deslumbrante. Na frente do pátio, onde os convidados se juntaram para assistir à solenidade, há uma fonte com chafariz de querubins. Amplas alamedas arborizadas ladeiam os jardins dispostos entre as colunas de palmeiras imperiais que levam à uma pequena floresta tropical ao fundo. E o dia estava fresco, e o sol saía tímido. Teve ainda boa música, com o coro e instrumentistas do Teatro Municipal executando o Hino Nacional, a Bachiana nº 5, de Villa-Lobos, e o tema do filme Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore.

Adriana fez um discurso singelo, contou das muitas mensagens pessimistas que recebeu: “isso é uma loucura!”, “você não vai entrar nessa roubada!”, “secretaria de Cultura não tem dinheiro pra nada!” Contou que a todas respondia intimamente com a pergunta: “Por que não?” Foi em frente, declarou seu amor pelo Rio de janeiro e pela gente daqui, prometeu prioridade para o agonizante Teatro Municipal e disse que sonha instalar núcleos de cultura em todas as escolas da rede estadual de ensino. Terminou recitando a poesia marginal de Chacal e Cacaso. Seu tom descontraído foi seguido por Sérgio Cabral que prometeu em seu discurso “apoiar a cultura como nunca”. Aleluia, governador!

Na minha vez, na fila dos cumprimentos, recebi o habitual sorriso largo, o beijo e o abraço de Adriana, e logo nos veio a lembrança de Elenora, amiga de há muito dela, amiga de há pouco minha. Mas, amiga das amigas, não estaria a nossa querida Lelê de todo ausente nesta data. Atrevida como ela só, pediria licença à São Pedro e desceria do céu para vir estar conosco. Ela que em vida foi grande festeira, em espírito é que não iria perder ocasião como esta.

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