Cariocas X Paulistas

Não sei se foi contra ou a favor dos paulistas o comentário que ouvi ontem depois de assistir à peça Um dia, no verão, do norueguês Jon Fosse. No grupo informal, reunido no foyer do teatro Nelson Rodrigues para cumprimentar os atores, correu a opinião de que a peça, que não vai bem no Rio, terá sucesso garantido em São Paulo. E por quê? Tirem suas conclusãoes. Para mim trata-se de um bom texto a serviço de efeitos especiais duvidosos.
Para começar a trilha sonora, que deveria ter a função de sublinhar a ação e contribuir para maior percepção da subjetividade em cena, apenas distrai o espectador, roubando atenção do texto, que tem o seu maior trunfo justamente na musicalidade. Jon fosse escreve com poucas palavras e muitas repetições, “variações e silêncios” com diz o programa da peça. Ora, a música de lounge, escolhida pela diretora (que também assina a trilha sonora) tem caráter aleatório característico desse estilo, feito para “distrair”.

É também equivocada é a profusão de efeitos especiais tais como chuva, ventania, tempestade, relâmpagos e trovões. A ação se passa em dois tempos cronológicos e o tempo climático permeia a ação, deveria estar a seu serviço, não fora e competindo com ela como nesta montagem de Monique Gardenberg .

No presente, a mulher madura está presa às lembranças do dia em que, no passado, seu marido foi para o mar no pequeno barco de madeira e nunca mais voltou. A reconstrução da memória tem nas alterações da natureza, a chuva fina que no passar das horas se transforma em tempestade, a metáfora contundente do estado de espírito da mulher jovem que vive a angústia da espera.

Simples, sutil e delicada, a escrita dramática de fosse exige um alto grau de parceria do ator, chamado a usar a emoção mais para construir a ação do que para interpretá-la.
Renata Sorrah, como a mulher madura, interpreta acima de tudo. Silvia Buarque se esforça, se esforça e fica no mesmo lugar, no meio do caminho. Tem atuação insossa e por isso acaba atropelada em cena. Bia Junqueira dá à personagem da amiga a energia necessária para dinamizar a ação. Fernando Eiras tende desnecessariamente ao caricato. Dadá Maia não diz a que veio. Só Gabriel Braga Nunes demonstra, pela sua atuação precisa e minimalista, que leu e entendeu o texto em toda a sua subjetividade.

Agora, porque os paulistas, ao contrário dos cariocas, acolheriam melhor um espetáculo pretensioso como Um dia, no verão, eu não saberia dizer. Mas uma coisa é certa: quem viver, verá.

Um comentário:

Leo Lama disse...

Sou paulista, depois da sua crítica precisa e necessária, vai ficar difícil gostar. Não vi e já não gostei.Gostei do seu blog.