InfraErro

Aceitei um convite muito especial para assistir à festa da Independência do México. É no dia 16 de setembro, e para chegar com um mínimo de antecedência tenho que embarcar dois dias antes. Quando estava tudo certo para a partida, dei-me conta de que meu passaporte havia vencido há um mês. Tanto faz um mês ou um ano, é claro, mas nossa tendência é ser indulgente com a imprevidência de curto prazo. Então, sem muita culpa, arregacei as mangas e tratei de providenciar o documento. Com dois telefonemas descobri uma coisa boa outra ruim. Primeiro a má notícia; emissão de passaporte agora só no Galeão ou Barra da Tijuca. Como a Barra, para mim, é outra cidade, preferi ser torturada na ilha do governador. A boa nova é que todas as informações e o formulário de requerimento estão no site da Polícia Federal: http://www.dpf.gov.br/. Outra boa dica é o site da justiça eleitoral http://www.tre-rj.gov.br/. Isso porque um dos documentos necessários para renovar o passaporte é o comprovante de voto nas duas últimas eleições. Então, basta digitar nome completo e nº do título de eleitor que a declaração aparece na tela, como num passe de mágica, e já autenticada para impressão. "Show!, agora é arranjar uma boa companhia para a via crucis", pensei. Veio na hora a lembrança do melhor amigo, Noílton Nunes. Apelei para o "em caso contrário eu jamais recusaria seu pedido!". Chantagem é coisa feia, mas quase sempre funciona.
E lá fomos nós para o aeroporto internacional que continua a ser chamado de Galeão, a despeito da mudança de nome – sim, porque o saudoso Tom Jobim deu certo em tudo na vida, mas na morte, não emplacou uma. O caso da Vieira Souto foi uma desfeita e o do aeroporto é uma piada. Vinícius teve mais sorte com as homenagens, mas essa é outra história.
Continuando, o galeão é longe demais e grande demais para ser repartição pública. Anda-se muito lá dentro, e nós andamos um bocado. Primeiro foi a taxa para pagar ( tem sempre uma facadinha do governo) no banco do Brasil que fica na ponta direita do Terminal I. Dali fomos para a polícia federal que fica do lado oposto, ponta esquerda do mesmo terminal. Uma vez lá, foi a senha, a espera, a briga do fura-fila, criança chorando, perua aos gritos no celular e o etc que você imaginar... Uma hora depois, chegou a minha vez. Confiante, tirei os documentos do envelope, mostrei meu passaporte antigo e olhei orgulhosa para o agente federal. Ele examinou a papelada, me olhou friamente e me disse que a foto não prestava. Argumentei que foto de máquina é assim mesmo e que, além do mais, mulher está sempre mudando de visula, e coisa e tal... Sério, o agente Sérgio apontou a data na foto. “ Pois é, foi do carnaval deste ano, fotografia 5 por 7 recente, como indica o site da polícia federal", comentei simpática. Impassível, o agente Sérgio me disse que a norma era de no máximo seis meses, e ponto final.
Lá fomos nós atrás de uma foto na hora, para não perder a viagem. Ninguém sabia informar onde. Na própria PF disseram que tinha uma máquina no Terminal 2, quase dois quilômetros a pé por dentro do aeroporto. Fomos para o Terminal 2 e lá, no balcão de informações da Infraero, um sujeito mal encarado, com tatuagens escorrendo pelos braços em mangas de camisa, recostado debochadamente na cadeira giratória, disse-nos que fotografia só em Cocotá, um bairro da Ilha do Governador. Resultado: foi a foto mais cara da minha vida; trinta e sete reais de táxi e mais nove do instantâneo.
De volta à PF, com tudo em cima, e sem nenhuma paciência, passei a frente do próximo e entrei no reservado do agente Sérgio. Por um triz não comecei a história do zero, ele já estava em pé para ir embora, mas me atendeu. Passou de novo o olho nos papéis e me entregou o protocolo: dentro de 30 dias teria o meu novo passaporte. Nervosa, cansada, quase desmontada implorei dizendo que minha viagem era dali a quinze dias e que ainda precisava de um visto para o México. Ele foi implacável; acho que sendo hora do almoço, a fome falou mais alto... Arrasados e mortos de fome também, Noílton e eu fomos almoçar a caríssima e horrível comida do aeroporto.
O resto da história é parte da velha história que começou com Pedro Álvares Cabral: sem falso pudor, apelei para o jeitinho brasileiro. Vou para o México na próxima quinta-feira.

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