De Bergman e Antonioni

Durante muito tempo guardei meio adormecida a vontade de assistir a Blow-up, de Antonioni. Vez por outra surgia uma oportunidade em reprises e mostras especiais e eu acabava perdendo. Primeiro porque era tempo de criar os filhos – e aí não sobrava tempo pra programação especial. Depois veio a necessidade de afirmação profissional e eu embarquei no turno da noite que, na verdade, começa todo dia às quatro da tarde sem muita hora para acabar. Aí, só dava pra pegar um cineminha de fim-de-semana, aquele que tem de ser eleito por consenso e, por isso mesmo, acaba sendo escolhido um cartaz de estréia, um lançamento. Então, a sede por novidades fazia passar na frente dos clássicos filmes absolutamente medíocres, para não se ficar para trás nas conversas de salão.
Um dia, livre das imposições de ordem prática e subjetiva, resolvi fazer o que me dava na telha e entrei para a Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Logo apareceu a oportunidade pra ver Blow-up. Ah, que delícia! O filme é baseado em As babas do diabo, um conto de Júlio Cortazar que narra a angustia de um fotógrafo envolvido com a possibilidade de interferir na realidade que retrata. Antonioni usa o texto existencialista de Cortazar como base para o seu cinema moderno, adiciona elementos do pop, e realiza um dos filmes mais charmosos de todos os tempos. Não vou entrar na viagem de falar dos “longos planos-seqüência” e coisas do gênero porque não é esse o ponto que interessa aqui. A intenção é prestar uma homenagem a um mestre do cinema mundial, morto esta semana, no mesmo dia em que morreu Ingmar Bergman, outro gênio da sétima ate. Não posso dizer que gosto mais de um que de outro, no entanto, conheço bem mais a cinematografia do mestre sueco. Mas Bergman fez mais filmes que Antonioni, tinha maior reconhecimento do público, e mesmo quem não curtia seus filmes ia vê-los para não “ficar por fora”. Além do mais, grande parte de sua obra é dos anos 70 e 80, a tal época em que eu não perdia novidades no cinema. Como se vê, nem sempre as novidades levam a gente para trás, pois existe a exceção para confirmar a regra.

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