Espetáculo carioca

O sol, enfim, apareceu para colorir as águas plácidas da Baía de Guanabara. O Pão de Açúcar despontou da neblina, enigmático e liso. Qual esfinge bruta, a pedra monumental montou guarda sobre a entrada da barra... Um cargueiro preguiçoso apitou sua chegada . A manhã já vinha alta. O horizonte limpo revelou a curva branca de Niterói para o Rio, que há dias jazia imerso em nuvens carregadas.

O albatroz cortou o céu de brilho transparente e convidou-me para um passeio à beira-mar. Aceitei o chamado da alegria e deixei todo o resto para depois. Vesti um biquíni estampado e fui sentir de perto o espetáculo carioca.

Atravessei o parque por entre as árvores de restinga... No deque da praia, o grupo dos mais velhos saudosos de sol cocoricava excitado, como fazem no terreiro as aves de vôo curto. Na primeira curva enrocada, encontrei Mara Mineira, catadora de mariscos, com sua cavadeira e luvas de operário. Ela me disse que entrava na briga das pedras contra o mar, contando tirar a féria de uma semana no primeiro dia de calmaria.

Caminhei pela beirinha, a água salgada gelando meus pés... Fui de um lado para outro vendo as crianças brincar... Passei pelo pescador de primeira viagem lutando com um caniço que teimava em esticar uma linha de todo má. Desviei rápido, para fugir da degola, e fui me esticar sobre a canga bem junto ao mar. Deitei de bruços e deixei maresia entrar pelos sete buracos da minha cabeça. Um avião riscou o céu levando meus pensamentos para Havana. Escrevi com a ponta do dedo o nome dele na areia, a onda veio e lambeu as quatro letrinhas de amor.

********

Nenhum comentário: