Pra dançar...

E lá fomos nós, um grupo de cinqüentões, assistir ao show da Madonna no Maracanã. Somos todos amigos de longa data e já dançamos muito ao som da cantora americana, desde os idos dos anos oitenta, nos tempos da explosão do videoclipe. Época em que sua imagem loiríssima invadiu telas e telões do mundo todo instigando imaginários femininos e masculinos com sua sensualidade agressiva, e abismando os puristas do rock com sua postura assumidamente pop. Ainda que nenhum de nós seja fã de carteirinha de Madonna, fomos todos influenciados de alguma maneira por seu discurso iconoclasta. Isto aconteceu antes da ditadura do politicamente correto, portanto, um tempo em que era permitida alguma transgressão, o que nos faz de certa forma cúmplices tardios da “Material Girl”.

Éramos cinco amigos entre mulheres e homens, e cada qual tinha comprado seu ingresso em dias e locais diferentes, portanto, quando nos encontramos para “esquentar os tamborins”, antes de partir para o estádio, foi que percebemos que os horários marcados nas entradas eram diferentes. Aí começou a cisão no grupo, estava na hora se o show fosse às oito da noite, porém cedo demais se o espetáculo só começasse às nove. Em nome do coleguismo todos cederam e depois de mais uma “saideira” nos enfiamos em dois taxis que nos deixaram em frente às filas, que andavam em sentidos contrários ao redor de todo o Maracanã.

O que parecia confusão era, na verdade, organização espontânea do público que seguia disciplinadíssimo para as arquibancadas. Essas, por sua vez, estavam divididas em 1 e 2, o que para o nosso grupo foi um transtorno inesperado. Acontece que, até então, nenhum de nós sabia que o ingresso da arquibancada 1 não daria acesso à arquibancada 2. E estaríamos irremediavelmente separados nas horas seguintes não fosse a farta venda de bilhetes em frente ao Maracanã. E não eram apenas os cambistas em ação, havia gente como um casal jovem que queria vender dois bilhetes por um quarto do preço original. Com jeitinho, conseguimos que eles trocassem os seus (de nº 1) pelos nossos (de nº 2) por uma gorjeta de vinte reais. E assim entramos todos juntos, agora com bilhetes iguais.

Ainda era cedo e deu para pegar lugar em baixo da marquise. O que foi muito bom porque, dez minutos antes do show, a chuva, que ameaçava cair desde as primeiras horas da tarde, despencou sobre o estádio e não deu trégua até Madonna deixar o palco, às dez e meia da noite. Não dá pra dizer que o mau tempo não atrapalhou. É claro que ter um assistente protegendo a cantora o tempo todo com um guarda-chuva tirou um pouco da magia cênica do espetáculo que é um pouco como o “Cirque du Soleil”. Mas com uma incansável Madonna capturando os sentidos do público, como um prestidigitador que transforma em ilusão a visão de toda uma audiência.

Nas duas horas de espetáculo a loura não parou em cena. Eu diria até que se há alguém no mundo capaz de assobiar e chupar cana ao mesmo tempo deve ser Madonna. Como pode uma mulher de cinqüenta anos pular corda durante um tempão e sair cantando com o mesmo fôlego de antes, sem nem uma desafinadinha? Não que o show seja apenas um espetáculo de malabarismo. Também não é uma banda de rock. Mas tem atitude de sobra, pois Madona põe uma pitada de sacanagem em tudo o que faz. Quando a malícia não está explícita, vem no subtexto. Além disso, as projeções dialogam com a cantora o tempo todo; os efeitos visuais são deslumbrantes; os figurinos são de um tremendo bom gosto; os bailarinos são um show à parte e a música... ah, a música é pra dançar, ora bolas. E Madonna deu conta do recado: fez o público sacudir por duas horas sem parar. Ao final, fomos todos embora, inclusive o grupo dos cinqüentões, com alma de adolescentes.



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