Será que ele é?

Se é carnaval, nada mais natural que cair na farra, encher a cara, meter o pé na jaca e etc. e tal. Até porque isso foi combinado lá atrás, na idade média, entre a Igreja e os mortais. Seriam três dias de folia e irreverência. Homens e mulheres iriam para as ruas com total liberdade, usariam disfarces e máscaras, comeriam até fartarem-se e beberiam até cair. O objetivo era extravasar ao máximo para depois passar os 40 dias da quaresma em profundo recolhimento, jejuns, penitências e orações, e purgar as culpas e se purificar antes de reviver o período mais dramático da vida de Cristo.
A superexposição de emoções durante três dias, contra o retiro espiritual-afetivo a que somos obrigatoriamente conduzidos pela vida afora é o que mais me agrada na festa profana. E a possibilidade que as pessoas têm de realizar suas fantasias metidas em fantasias é o mais engraçado de se ver. Muito interessante ainda é observar como os homens se divertem travestidos de mulher. Lembro que, garota, fui com meus pais passear em Friburgo num dia de carnaval, e tive a forte impressão de que, naqueles dias, todos os homens da cidade iam para as ruas vestidos de mulher. Eram bandos de marmanjos de sapato alto, saia justa, sutiã, colares, pulseiras, brincos, batom, peruca e etc. Fiquei tão impressionada que desde aquele dia, e por muito tempo depois, matutei sobre porque diabos um homem gosta tanto de se fantasiar de mulher.
O tempo passou e eu aprendi com a vida, a literatura e o cinema que há mais mistérios entre o céu e a terra, e passei a me preocupar mais com assuntos comezinhos. Porém nesta semana, depois de dois dias de chuva forte o tempo se abriu pra ver a banda de Ipanema passar. E o bairro mais alegre do Rio foi pra rua comemorar o último dia de carnaval. Era gente chegando de tudo quanto é lado, descendo dos prédios, da favela, vindo em direção à praia na maior animação, transformando o calçadão na grande passarela de blocos da cidade. É claro que tinha de tudo ali, mas o que mais se via eram homens vestidos de mulher. Homens mais velhos, mais jovens, de todas as tribos, de eskatistas a mauricinhos, todos bem à vontade, passeando de um lado para o outro, alguns de mãos dadas com a namorada, outros paquerando, bebendo ou só zoando, mas todos vestidos de mulher.

Voltei a cismar com esse assunto... No próximo carnaval, vou fazer uma enquete, entrevistar antropólogos e psicólogos, falar com o povo nas ruas e tentar descobrir porque, depois de ir à lua,fazer a revolução digital, o projeto genoma e inventar o celular, o homem continua com a mesma fixação, uma espécie de misoginia ao contrário. Ao ponto de querer agora, pra completar a desgraça, gastar rios de dinheiro para criar de uma vez por todas o espermatozóide de mulher. Vai entender?

Um comentário:

Baô disse...

Adorei o Blog Leila, seu humor inteligente está muito presente nos artigos, parabéns !
Pois é, essa estória de homem travestido de mulher no Carnaval também sempre me intrigou. Aqui temos as "virgens de Olinda", onde milhares de "héteros" vão às ruas com roupas e maquiagens femininas e parecem ter seus "5 minutos de liberdade". Ali eles podem fazer o que querem que a sociedade não irá julgá-los.
O curioso, é que homossexuais já conhecidos pela sociedade, parecem não curtir muito esse tipo de bloco. Vai entender ! Risos