Relaxa & Goza

Há um movimento no Rio, meio espontâneo, meio conduzido, no sentido de esticar o carnaval até o final de semana seguinte. Eu dou força. Primeiro porque nada acontece nos dois dias subseqüentes à quarta-feira de cinzas. Então deixa a festa continuar, pelo menos para atenuar a ansiedade de quem quer ou precisa trabalhar. Depois, porque acredito que o Rio de Janeiro deve assumir definitivamente sua vocação turística e incrementar o calendário de eventos, investir recursos e somar esforços para trazer o maior número possível de visitantes e tentar mantê-los por mais tempo aqui. No Brasil, gabinetes de turismo deveriam ter importância estratégica. Mas não, a escolha para essas pastas se faz por conchavo ou acomodações políticas. E o povo que fique no relaxa e goza, até bem apropriado no caso do Carnaval...

Mas a onda de estender a folia tem dado muito certo. É só conferir o desfile das campeãs, que faz a noite mais alegre do sambódromo. O desfile do Monobloco, hoje, em Copacabana, foi sucesso absoluto e garantiu lugar de destaque na agenda prolongada. Outro evento que está firmando tradição, e um dos que eu mais gosto, é o Balmasqué do Sofitel.

O baile existe há três anos, acontece na sexta-feira pós-carnaval, e com muito sucesso mantém a qualidade da versão original. O espaço é magnífico, um andar inteiro do hotel no posto 6, no cantinho de Copacabana, com a vista de toda a praia na grande varanda decorada com mesas e sofás, juntinho ao Forte de Copacabana, este ano com a roda-gigante colorida arrematando a paisagem.

O salão é amplo e luxuoso, com um grande palco para a orquestra, mesas de quatro, seis e até doze lugares e dois grandes camarotes. A orquestra é ótima e o repertório atende a todos os gostos no carnaval. Mais marchinhas, sambas tradicionais e um pouquinho de axé. Entre o salão e a varanda há um enorme lobby, todo decorado para a festa com muito espaço para as pessoas se encontrarem e conversarem, por onde, a cada meia hora, passa a bateria de uma escola de samba. Ali, as mesas largas e avulsas são dispostas com folga pra quem quiser sentar-se para jantar. Ah, o jantar... Esse é, há três anos, o ponto alto do baile. Um grande bufê com a maior variedade de iguarias, mantido do início ao fim da festa com as mesmas qualidades: gostoso, bem apresentado e bem servido.
Há ainda no mesmo andar três salões menores decorados como um lounge, um camarim, um boudoir, e uma boate superrefrigerada com música de discoteca. A bebida é servida com fartura. Além dos bares montados por todos os cantos, garçons experientes passam suas bandejas com constância confortável entre a gente bonita e bem vestida.
Mas essa festa não tem defeito?, você há de perguntar. Tem, e é justamente a freqüência, “boa” demais.
Ora, os poucos convidados são escolhidos a dedo e a grande maioria paga um convite de preço justo, porém alto. O traje exigido é black tie, longo ou fantasia de luxo, fato que seleciona o público ainda mais. Há muitos hóspedes estrangeiros do próprio hotel e executivos das empresas francesas sediadas no Brasil concorrendo para manter o nível igual da festa. A sociedade carioca já comparece em peso ao evento e este ano ainda havia um grupo de eminentes intelectuais.
É claro que eu me diverti e encontrei muitos amigos, gente que não via há tempos, gente boa e interessante para conversar, mas festa bacana tem que ter mistura, contraste, e aqueles convidados que por si só já são um happening, um acontecimento espontâneo e natural. Havia, sim, um Jorge Salomão aqui, uma Roberta Close acolá, mas já muito comportados, não eram os mesmos de outros carnavais. E carnaval tem que ter bagunça, bafafá, tumulto, confusão; tem que ter aquela turma prestes a perder a linha, aí o ambiente se descontrai e rola logo um legítimo relaxa e goza no salão.

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