Bala Perdida em Berlim

O filme tropa de elite ganhou o Urso de Ouro em Berlim e isso é bom para o cinema brasileiro, ponto. O filme tropa de elite ganhou o Urso de Ouro em Berlim e isso não é bom para os brasileiros, ponto. É ponto de vista, o meu. E vou morrer defendendo a liberdade de expressão de quem discorda de mim, ponto final.

Na ocasião do lançamento do filme no Brasil eu escrevi neste blog que considerava o filme de José Padilha muito bom, mas que, infelizmente, trazia uma mensagem fascista, expressa em vários aspectos. Pra começar, o tratamento de herói dado ao capitão Nascimento, fazendo dele uma figura simpática com a qual é fácil se identificar. E, no entanto, o personagem é um facínora, torturador, sanguinário. O filme mostra a corrupção na polícia, e isso é bom, pois talvez esteja aí a raiz do problema de toda essa violência. Porém, ele comete o grave erro de colocar no mesmo saco traficantes, usuários de droga e moradores da favela. E pau neles!

Eu rezo na cartilha de Paulo Emílio Sales Gomes, o célebre crítico de cinema, para quem o pior filme brasileiro é sempre melhor que o melhor filme estrangeiro. Digo isso como justificativa para a minha primeira assertiva aí em cima. Para explicar a segunda, evoco o mais recente e abominável episódio de criança atingida por tiro de fuzil na favela. Foi na sexta-feira passada, durante operação da Polícia Civil na Rocinha. Eu estava em São Paulo e li nas manchetes dos jornais aquela velha história que tanto excita e assusta os paulistas, a balela da "bala perdida".

Bala perdida uma ova! Vamos aos fatos. Às 13h começa uma operação da Polícia Civil na favela da Rocinha para encontrar um paiol de armas e prender o chefe do tráfico local. Uma menina de onze anos brinca de videogame com o pai, dentro de casa. Eles ouvem o movimento de carros e o pai vai à janela ver o que está acontecendo lá fora. Quando a menina coloca a cabeça na outra janela, os policiais atiram e acertam dois tiros, um no pescoço e outro no braço da criança. O pai vê de onde partiram os tiros e os próprios policiais ajudam a levar a menina para o Miguel Couto. Ágata Marques dos Santos chega ao hospital já morta. Na operação foram presos dois traficantes (pés de chinelo, é claro) e apreendidos uma pistola, maconha, crack, cocaina e munição. Precisa dizer mais?

Só pra finalizar, faço ainda duas declarações: sou terminantemente contra qualquer tipo de operação policial, civil ou militar, nas favelas e periferias das cidades enquanto os órgãos de segurança não provarem que podem agir com planejamento, inteligência, cautela e respeito pelos moradores dessas comunidades. Sou radicalmente contra qualquer mensagem de glorificação da brutalidade policial.

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Um comentário:

Breno Leite disse...

Leila,
ótimo texto!Tocou na ferida!
É isso mesmo. Sobra sempre para o lado mais fraco.
A polícia fluminense vem matando mais de 1 carandiru por mês.E como dói.
Segundo dados do próprio governo estadual a polícia matou 694 pessoas nas favelas durante os primeiros 6 meses de 2007 (fonte: Revista Caros Amigos mês fevereiro/08 página9); E tá todo mundo de bico calado.
Querem mesmo acabar com o narcotráfico? Pois bem comecem a investigar quem ganha mesmo com o tráfico de armas, juizes, políticos e policiais e outros que ganham com o jogo de extorsões e suborno. Enquanto esta gente estiver livre continuará o narcotráfico. Ou o estado legaliza as drogas taxando-as pesadamente como faz com o tabaco e o álcool. Mas, adivinhem quem são os maiores adversários da legalização...

Um beijo,
Breno