A prostituição é mais antiga do que o ser humano

De todas as notícias dessa virada de ano a que mais me interessou foi uma pesquisa publicada na “New Scientist” demonstrando que a prostituição é mais antiga do que o ser humano. Nela, o cientista Michael Gumert, da Universidade Tecnológica de Cingapura, revela que macacos também pagam por sexo. Durante os 20 meses que estudou o comportamento de 50 indivíduos de uma espécie indonésia, ele observou que as fêmeas aceitavam se acasalar em troca de cafuné. Elas, que costumavam fazer sexo uma vez e meia por hora, depois que recebiam o carinho dos machos passavam para uma média de 3,5 vezes por hora. E mais: ficavam menos propensas a se oferecer para outros machos que não os seus parceiros. Ora, disse-me um amigo com quem comentei a notícia, isso não é prostituição, é técnica de sedução, de resto tão antiga quanto a mais antiga das profissões. Pode ser, inclusive há estudos respeitados sobre a evolução do “altruísmo recíproco” entre os macacos, no qual participantes de uma relação podem obter vantagens mutuas se cooperarem entre si. Mas a teoria do altruísmo é o resultado de estudo em comunidades confinadas. A novidade é que esta última pesquisa focalizou um grupo sujeito a movimentos migratórios no qual havendo fêmeas em número suficiente o valor do sexo é menor. Nessa circunstância, um macho poderia “comprar” uma fêmea por oito minutos de cafuné. Quando existiam poucas fêmeas, tinha que fazer o dobro do tempo de carinho para acasalar. Desta forma, o valor do negócio dependeria do contexto, como commodities em economia de mercado.
O assunto caiu como uma luva na indolência dos primeiros dias do ano e, contemplando a vista do Pão de Açúcar da varanda aqui de casa, eu e meu amigo passamos a divagar sobre todo o tipo de negociação que envolve as relações amorosas entre homens e mulheres. Foi então que eu me lembrei de um encontro com uma amiga no aeroporto Santos Dumont, numa manhã em que a forte neblina provocou um atraso de mais de três horas nos vôos da Ponte Aérea. Fomos colegas de ginástica do professor Gaspar (aquele que batia com um bastão no bumbum das alunas) por quase uma década e não nos víamos há alguns anos. Conseguimos duas cadeiras juntas no saguão lotado e tratamos de pôr o papo em dia. Sylvia logo me contou que tinha trocado de marido, estava casada com um rico empresário paulista, que mandara as duas filhas adolescentes estudar na Europa e que depois de uma longa viagem de lua de mel por países exóticos do oriente, voltou a São Paulo para uma vida nova na suntuosa mansão do casal nos Jardins. Fiquei maravilhada com a sorte da colega de malhação. Sorte sim, porque Sylvia não era exatamente uma beldade, apesar de ter a aparência agradável, um sorriso meigo e uma conversa razoável, sem muito brilho, porém plena de feminilidade. Eu sempre a admirei, lembrei-me, talvez por ela transparecer sinceridade. E foi então que lhe disse também muito francamente: “Parabéns amiga, você tirou a sorte grande”. Nesse instante, Sylvia baixou a cabeça, olhou para a mão esquerda com o anel de brilhante quase do tamanho de uma caixa de fósforos e murmurou entre os dentes: “Não é bem assim..., é tudo muito difícil.” Ainda sem fala – meio assombrada com a visão de jóia tão preciosa àquela hora da manhã – apenas ergui as sobrancelhas em sinal de indagação. "Sim", continuou, “ quando chegamos de viagem, no primeiro dia de casados, sentamos à mesa para jantar. Eu, radiante de felicidade, quis contar-lhe o meu dia e mal comecei a falar fui bruscamente interrompida. Com rispidez, ele me disse que havia trabalhado muito, estava cansado e queria silêncio na hora do jantar. Eu emudeci, e assim permaneço durante as refeições.”
Confesso que essa história sempre me comove. E ainda desta vez não consegui conter a emoção. Foi então que o meu amigo chegou bem perto de mim, segurou a minha cabeça com as mãos, passou de leve cada polegar no canto dos meus olhos e perguntou baixinho, só pra eu ouvir: "Quanto tempo você quer de cafuné?"

2 comentários:

Unknown disse...

leila
delicioso post.
shlomo

Leila Richers disse...

obrigada. volte sempre.
abraços,
leila