Samba da vitória

Minha primeira lição na faculdade de comunicação foi em tom de anedota. O professor de jornalismo, Nilson Lage, contou-nos, já na aula inaugural, a história do editor de um jornal que encomenda ao repórter uma matéria sobre Jesus Cristo. Ao que o subordinado, após ajuizada aquiescência, pergunta: contra ou a favor?

Assim, aprendia-se, ao entrar na faculdade, que um jornalista deve desenvolver a versatilidade verbal e treinar malabarismos retóricos para se firmar na profissão até, quem sabe?, conquistar seu espaço próprio de opinião. No livro “O Anjo Pornográfico”, biografia de Nelson Rodrigues por Rui Castro, o autor conta que, por algum tempo, Otto Lara Resende foi o editorialista de dois jornais com posições antagônicas, sendo um matutino e outro vespertino. Profissional competentíssimo, Lara conseguia a proeza de, pela manhã, escrever um editorial apoiando determinada idéia ou posição que, à tarde, derrubava sem piedade.

Esta época de eleições é pródiga em artigos que investem na habilidade do proselitismo político. E até quem não se especializou em nessa área aproveita a onda para dar suas cacetadas. Afinal, o assunto é o mais veiculado em todos os espaços de comunicação; do jornal impresso às conversas na praia e nas mesas de bar, passando pela internet e até pelo telefone celular. Então, é quase que obrigatório falar no assunto e, dependendo do acirramento da disputa, sente-se também obrigado o colunista a tomar partido, qualquer que seja a posição do (seu) jornal.

Com uma coluna recente no Jornal do Brasil e na Gazeta Mercantil, senti-me de certa forma compungida a expressar opinião a respeito da disputa pela prefeitura do Rio. Porém, optei por abordar o assunto de forma indireta, tratando de coisas como a identidade carioca, a segurança e a qualidade de vida na cidade, a relação da violência com a educação e exemplos de iniciativas bem sucedidas em âmbito municipal em outras partes do mundo. Porque credito acima de tudo na prática da reflexão, que resulta em mobilização para as transformações sociais.

Porém, ainda ontem, num jantar na casa de amigos, fui cobrada por não ter declarado meu voto nem ter escrito sobre o porquê da minha decisão. Então, antes tarde do que nunca. Aproveito o imediatismo da internet para dizer em alto e bom som que Vou De GABEIRA PARA PREFEITO DO RIO DE JANEIRO, esta cidade maravilhosa que, apesar de tanto desmando, continua abençoada por Deus e bonita por natureza. E para não ficar devendo explicações, passo à lista das vantagens do meu candidato. O que significa, nessa altura do campeonato, uma compilação de tudo o que o seu adversário não tem.

Gabeira não cogita armar a Guarda Municipal. Gabeira não vai lotear as secretarias municipais entre uma miríade de partidos políticos com programas e posições ideológicas antagônicas. Gabeira já declarou que seu secretariado será escolhido por critério meritório entre técnicos e especialistas com nível de excelência em suas áreas de atuação. Gabeira não aceitou o apoio de representantes do caciquismo populista mais atrasado do nosso estado. Gabeira faz uma campanha limpa em todos os sentidos. Gabeira não apela para falsos valores éticos como a exaltação da família nuclear que redunda em preconceito contra outras opções de vida. Gabeira é a favor da reforma da polícia, como primeiro passo para resolver o problema da violência na cidade. Gabeira não se opõe a discussão sobre a legalização da maconha. Gabeira mostrou coerência ao longo de toda a sua vida política e representa a restauração da credibilidade nos políticos. E se isso não bastasse, Gabeira ainda revela a essência de sua formação progressista quando diz que se preparou a vida inteira para a vida inteira.

Portanto, no próximo domingo, vou vestir uma camiseta verde e votar no número 43. E assim que sair a pesquisa de boca-de-urna, zarpo para o território livre da Lapa, que não é Zona Norte, nem Subúrbio, muito menos Zona Sul, mas o lugar onde a cidade diuturnamente se encontra para comemorar com samba a vitória do Rio de Janeiro.

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