Realidade X Ficção

Mergulhada em trabalhos com prazo em vias de vencer, ando impedida de ir ao teatro, ao cinema ou a qualquer outro evento que me proporcione assunto para este blog. Leio todos os dias o jornal, mas ali também não encontro inspiração para um artigo relevante neste final de ano com jeito de retrospectiva requentada. Então, para não desapontar meus leitores, decidi inverter novamente os gêneros neste espaço - reservado para comentar o factual, e publicar uma peça da minha pobre imaginação, inspirada no mais recentemente divulgado patrimonio cultural da Venezuela:

Suíte Zona Sul

"Que merda! A gota de vinho caiu no debrum de renda chantilly do penhoar de seda branca. Bebia a segunda garrafa do melhor vinho da adega. A boca anestesiada, a cabeça ainda a mil. Filho da puta! De caso com uma cantora, nova musa do verão. As amigas insinuaram; no Country o assunto da ruiva hype ou cool ou qualquer porra dessas foi mais do que indireta. Procurou, encontrou o fio de cabelo longo e cobreado na dobra do paletó. Canalha! Se esbaldando nas sardas da plebéia alazã enquanto ela, terceira geração de mulheres lindas e lânguidas, em baixo da barraca, sem uma manchinha de sol.
Sentiu a onda de tesão irradiar do estômago para o púbis e dali por entre as pernas... Dava agora mesmo pro porteiro mulato, e dava no elevador pra fazer escândalo na Vieira Soto. Bebeu mais vinho e acendeu outro cigarro. Abandonada nunca! Até hoje nenhum caso na família, clã da aristocracia carioca. Matava o safado primeiro. Foi do salão pro escritório, abriu a gaveta da escrivaninha e pegou a arma. Mirou na foto do marido, com os pais no dia da formatura. Patife também tem mãe! Caiu em prantos e foi tropeçando nos soluços assoar o nariz no banheiro da suíte. Passou pelo quarto e ouviu o som alto da televisão. Sentou-se na beira da cama para ver a apresentadora. Olhando nos seus olhos a loura da madrugada anunciou a notícia do próximo bloco: SOCIALITE MATA O MARIDO POR CIÚMES
Acendeu três cigarros na seqüência deixando todos pela metade. Na volta dos comerciais soube do caso em São Paulo. Foi pra janela e escancarou a vidraça. Encarou o vão negro do oceano assustador. Sentiu a maresia lamber o seu rosto, na boca o gosto de sal... Repetir a perua paulista, nem morta, que mico maior ninguém pode pagar. Suspirou fundo e planejou investir numa boa chantagem."

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