Embora desconfie de que ninguém agüenta mais discutir Tropa de Elite, peço licença aos meus eventuais leitores para cometer alguma inconveniência e voltar ao assunto uma última vez. Acontece que só agora consegui assistir ao filme. Então, mesmo atrasada, sinto a necessidade de tecer considerações a respeito, caso contrário fica o blog sem razão de ser, pois blog é justamente o espaço que inventaram na internet para quem quiser dizer o que pensa, é a mídia de cada um, sem censura, sem mercado, sem patrão...
Portanto, este é o lugar para contar que tentei ver o filme em casa, no aconchego do lar, e que não consegui. Não por falta de opção, mas porque meu velho aparelho de DVD é elitista e rejeitou todas as cópias piratas que comprei ou tomei emprestadas dos amigos, os quais não vou dedurar, pois se blog tem regra é a de que cada qual faz a sua, e a minha é manter a discrição.
Então, pra encurtar assunto, sou a favor da pirataria por acreditar no princípio da livre iniciativa, pois se é economia de mercado, ele, mercado, que encontre a solução para fazer chegar um produto ao maior número de pessoas, de maneira tal que a coisa se pague por essa via e ainda agregue algum valor. E produtores e distribuidores que briguem com o governo contra o imposto de 47,5%
sobre DVDs, taxa a meu ver exorbitante para produtos culturais, ainda mais num país onde o salário mínimo não passa de 250 dólares.
Dito isso, vamos ao assunto principal: em minha opinião, Tropa de Elite é uma obra reacionária e até fascista na medida em que, no roteiro, no enquadramento e na fotografia, dá ao capitão Nascimento tratamento de herói (e não é à toa que o protagonista é galã de televisão). Tropa de Elite é também um filme muito bem feito e bem dirigido, ironicamente pelos mesmos motivos que o tornam eficiente ao reeditar a velha dicotomia entre o bem e o mal, sem nuances, sutilezas, sem razão e sensibilidade. Mas o pior é que neste caso, trata-se da luta entre o péssimo e o ruim. E, para mim, o mal nunca é a melhor solução, ainda mais quando se trata de ponto de vista numa cidade partida.
Ora, no filme, se de um lado está o tráfico,sem dúvida, fora da lei, do outro está uma patrulha violenta, arbitrária, torturadora e assassina que se arvora o direito de agir em nome da “lei”. No meio da ação, que ocorre à margem do direito formal, infiltra-se a mensagem totalitária de que ou você está do meu lado, ou está contra mim. E o filme se exime, ainda, de qualquer dimensão psicológica ou social ao condenar sumariamente, por exemplo, um adolescente morador da favela por não resistir ao desejo de possuir um tênis importado. Desta forma, defende a tese do livre arbítrio e se engaja numa estética maniqueísta que em nada contribui para aproximar os dois lados partidos desta cidade. É lamentável.
3 comentários:
Querida Leila,
a Internet é sem dúvida livre,mas devemos filtrar as informações interessantes daquelas banais.Analisando bem sua escrita e forma de se apresentar, eu diria, como terapeuta, trata-se de uma solidão absurda a ponto de pensar em leitores, e mais, a postura de uma senhora na nossa idade pressupõe um certo pudor e sabedoria de não se expor ao ridículo de querer a eterna juventude. Eu lhe desejo de coração o que nosso querido Freud chamou de PRINCÍPIO DE REALIDADE, ou em outros termos caia na real.
Leila,
Concordo com quase tudo que você, com perspicácia, simplicidade e grande poder de síntese afirmou.
Permita-me, entretanto, uma sutil discordância:o filme, é , de um modo geral, até onde me parece, o retrato do quadro que hoje observa-se na cidade do Rio, no que diz respeito à segurança pública.Ou seja, a luta entre os "agentes da lei" ( PM ) e os "bandidos" (revendedores de drogas).O BOPE aparece como ele de fato foi ( não sei se ainda é): Duro e incorruptível! Mas, por tolerância da sociedade,adepto de práticas de tortura para a obtenção de RESULTADOS.Tudo muito claramente mostrado.
Fascista, então, não seria O FILME que apenas retrata o quadro, mas a existência e atuação dessa Tropa de Elite! O filme, apenas conta esse fato.Que, aí concordo, é fascista.
José Alberto
José Alberto,
Concordo contigo que o BOPE é fascista pelos métdos empregados. porém discordo de vc quando diz que o filme não é fascista. É fascista à medida que conta uma história que trata o Bópe como herói. De forma sutil a camera projeta Capitão Nascimento como herói. Outra questão é a forma que o roteiro é elaborado. Ele foi constituído de uma forma dicotômica e chapada que não capta nuances. Coloca de um lado bandido e mocinho como um faroeste. Sendo que ele poderia contar esta história de muias formas que Não fascista. Assim tem um olhar do diretor do filme que reflete em uma película fascista.Sabendo-se também que somos um pais recente saído da ditadura com uma classe media que com medo da violencia se encontra no fime defendendo o olho"por "olho","dente por "dente. Resultado disso, o Ibope do Bope nunca foi tão alto e o povo do morro que continua cada vez mais alijado de influir no resultado. abs,
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