Cruz X Credo

A campanha para eleger o Cristo Redentor uma das Sete Maravilhas do Mundo tem na geração de milhares de empregos indiretos no turismo um apelo irresistível para o morador de uma cidade com a economia acachapada, como o Rio de Janeiro. Fora a injeção de auto-estima, sempre bem vinda, segundo a crença vulgar e o lugar comum das mesas de bar. E agora, que as operadoras de celular abriram mão do valor cobrado pelas mensagens de voto, virou obrigatório se engajar “nessa luta”.
Mas que luta é essa, bicho? Alguém acredita que ganhar um concurso promovido por uma ONG da Suíça é mais importante para o desenvolvimento do turismo no Brasil do que resolver o problema do apagão aéreo. Ou dá pra perceber que tudo não passa de mais um número deste grande circo eternamente montado para distrair corações e anestesiar mentes. Olha o Pam aí jogando mazelas para debaixo do tapete enquanto enche de dinheiro as burras dos poderosos da ocasião. Mas isso é a história da cartolagem no país... E se no Brasil é assim, no Rio de Janeiro, é assim e meio.
Pois não é que um dia, sem protesto das outras religiões, a igreja católica se apropriou de uma das montanhas mais bonitas do mundo e tascou-lhe no topo esse penduricalho cafona que é a estátua do Cristo Redentor. Um monumento ao kitsch, isso sim. Uma interferência desnecessária ao conjunto de montanhas que formam o extremamente belo relevo da cidade. Ainda mais escabrosa me parece essa idéia quando vejo o Corcovado virgem, numa litografia do séc. XIX, como a Vista da Montanha do Corcovado e do bairro do Catete, de Rugendas. Ou numa das muitas fotografias de paisagens do Rio de Janeiro de Marc Ferrez, como a Vista de fora da Baía de Guanabara, do lado de Niterói, de 1890.
É como diz meu namorado: Não dava para suportar o Bom?

Um comentário:

Breno Leite disse...

Leila,

Vc Recuperou o olhar estético e histórico esquecido no oba-oba comercial dessa eleição esquisita.

Parabéns!!

bjs,

Breno