Carminha sofre!



Nunca fui de ver novela, até porque trabalhei durante muito tempo no telejornalismo noturno, o que me impediu de pegar o hábito de assistir televisão e me fez investir as horas livres em literatura. E nem sei bem por que comecei a ver Avenida Brasil. Acho que continuei em frente à TV depois do Jornal Nacional (melhor agora com a entrada de Patrícia Poeta), e acabei por assisti o primeiro capitulo de Avenida Brasil.

Acontece que o mesmo se repetiu no dia seguinte, e no outro também, e agora assisto a pelo menos três capítulos da novela por semana. De início, o que mais me interessou foram as cenas, a la Charles Dickens, do lixão. A inversão na lógica dos núcleos, que transformou a Zona Sul em periferia do subúrbio, também é interessante. Além do mais é um subúrbio gostosíssimo o Divino, é arejado nos costumes, dispensa o moralismo da tradicional oposição entre a romantizada gente simples e a arrogante classe A, é bonito, alegre e vulgar na conta certa.

Avenida Brasil é, além disso, um corte epistemológico na veia nacional, com sua sensualidade epidérmica, o caráter flexível, a exaltação da preguiça e a esperança de mudar de vida inteiramente depositada na grande tacada, no pulo do gato, ou no se dar bem. E tem ainda uma rapaziada bonita pra chuchu. São jovens sarados, espertos, alegres, e com ótima presença em cena. As mulheres, por sua vez são todas interessantes, vividas por atrizes que chamam a atenção pela beleza ou pelo talento, ou pela combinação dos dois, ou ainda pelo carisma amplificado, como a Mãe Lucinda, de Vera Holts.

Agora, o que mais me agrada na nova trama das oito é não ter que esperar quase um ano pelo fim da novela para ver a vilã sofrer. Por que o sofrimento de Carminha na mão do amante boçal é constante. Ele arma e ela paga o pato, sem sossego, numa casa onde todos fazem o que bem entendem, menos ela, que tem de posar de filha-de-maria, de mãe amantíssima, de grande companheira, estimada nora e boa dona de casa. Só que Carminha tem índole de periguete das periguetes. Então, ela sofre.

Junte-se a isso um texto ágil, em capítulos bem resolvidos, quase circulares, em que a trama sempre avança com a resolução de alguma crise, em ritmo mais de série do que de seriado, e tem-se um bom programa para assistir. Concordam?

2 comentários:

thiago disse...

Faço a mínima idéia... mas depois do seus comentários... novela passou a parecer algo bom... rs...

dil disse...

Acho que não temos mais como não dizer: O trabalho de Adriana Esteves já está entre os maiores de todos os tempos na teledramaturgia brasileira. Em se tratando de vilania, está em pé de igualdade com Glória Pires e Beatriz Segal, por exemplo.

É de se tirar o chapéu pra essa pequena grande atriz. Está dando um show particular..São diversos coelhos na cartola que ela, a cada dia, tira pra nos surpreender.

Bravo!