Salomão e o Festival do Rio

Dizem que a economia por aqui está bombando, muito por conta das escolhas acertadas nos investimentos sociais da era Lula, a despeito da crise internacional. Ou talvez por isso mesmo, como acreditam outros, os europeus estejam investindo pesado no Rio de Janeiro, e daí a recente alta espetacular nos preços dos imóveis nos últimos dois anos. Há os que apontam ainda a expectativa de forte injeção de grana na economia carioca por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas vindouras. Eu, sinceramente, não sei fazer um diagnóstico nem mesmo impreciso do que ocorre, mas percebo os sintomas de um Rio de Janeiro eufórico e angustiado ao mesmo tempo.


Noto uma população tão animada que chega a ser ansiosa no afã, perdoem o pleonasmo, de aproveitar ao máximo toda a oportunidade de diversão que lhe é apresentada. Foi assim na última Bienal do Livro, no Riocentro que fez recorde de público. Nunca se viu tanto visitante no evento, ao ponto de ter sido necessária a intervenção da Defesa Civil, para controlar a lotação do espaço no último dia. Mas a Bienal tem entrada franca e é programa para toda a família, dirá você. Sim, no entanto, foi sempre dessa forma e nunca houve, nas quatorze edições anteriores, tanta gente interessada em ver livros assim.


E o que dizer do Rock’nRio? Outro estouro da boiada. Filas de seis horas para andar na roda-gigante, quatro horas para a montanha russa e outras tantas para outras atrações. É muita vontade de dar voltas e reviravoltas no ar, ou eu estou mesmo ficando velha e não sou capaz de avaliar o grau de satisfação proporcionado por esses brinquedos.
Então vejamos o tipo de diversão mais apropriado para a minha idade e estilo de vida: cinema. Sempre acompanhei o Festival do Rio, com qualquer nome que tenha tido, não perdi uma de suas várias edições. Fui assídua frequentadora da plateia do Odeon e fiz bons amigos no café do teatro, gente que conheci ou reencontrei durante os intervalos das sessões. E, com crachá ou convite, sempre consegui assistir aos filmes que quis, muitas vezes um seguido do outro, como propõe a própria programação do evento.
Acontece que este ano a coisa mudou. Ou venderam mais ingressos do que a lotação do Odeon, ou em anos anteriores não havia a euforia de que falei mais acima. Só sei que com tempo bom ou com chuva as filas eram imensas e quem saísse de uma sessão não conseguiria lugar na sessão seguinte, mesmo que ficasse mais de meia hora na fila. Aliás, a média foi de 45 minutos de fila por filme exibido. A estimativa é minha, baseada em experiência própria ou no depoimento de amigos. Uma pena para os verdadeiros cinéfilos e uma falha para com os que estavam ali a trabalho, como o Salomão Azaria.

Salomão é um dos camaradas que fiz no café do Odeon, há alguns anos, numa edição do festival. Ele me foi apresentado por uma amiga em comum e desde então somos companheiros da maratona cinéfila. Hoje, mais do que isso, somos amigos. Salomão faz o Festival de Cinema Brasileiro de Israel, e o faz como ninguém. Todos os anos leva uma seleção dos nossos melhores filmes para a mostra que ocorre nas três principais cidades do país, Tel-aviv, Haifa e Jerusalém. Acompanhando os quinze longas-metragens, sendo dez de ficção e cinco documentários, vão diretores ou atores dos respectivos filmes que junto com jornalistas ou críticos formam a delegação de brasileiros convidados pelo festival. Eu mesma fui convidada em 2008 e fiz a cobertura do festival para o Jornal do Brasil.

É claro que Salomão precisa assistir a todos os filmes, caso contrário a seleção seria tendenciosa, ou no mínimo injusta, ao recair apenas sobre parte das obras inscritos no festival. Pois acreditem, a disposição de Salomão é tanta que ele chegou a assistir a um filme sentado no chão. Foi Sudoeste, logo a vedete do festival. Saímos juntos do filme anterior e entramos diretamente no fim da fila que dava a volta no quarteirão, mas não conseguimos um assento. Eu fui embora. Salomão sentou-se na escada, no fundo da plateia, e assistiu impávido ao filme até o fim. Eu morri de pena de não ver Sudoeste. Salomão adorou o filme que já está na lista dos que serão exibidos no Festival do Cinema Brasileiro em Israel.
Moral da história: No final dá tudo certo, mas dessa vez foi por um triz. E

2 comentários:

thiago disse...

Na verdade, a moral da estória é: apaixonados, como o Salomão, fazem tudo dar certo... sempre arranjam um jeitinho...

Como muitos que, muito raramente, assistem TV... conseguem ouvir o Cidade de Leitores, entre outros, pela webradio da Multirio...

PS: mandei bem, hein? fala aí...

Arnaldo Bichucher disse...

Grande Salomão!!!
Incansável na promoção da cultura brasileira em Israel, no Oriente Médio e, consequentemente, no mundo.