Blind Date

Não adianta o quanto eu resista à idéia, os amigos continuam empenhados em me arranjar um namorado. Desta vez foi um blind date, coisa que eu só conhecia de ouvir falar, como a música do Zeca Pagodinho com o caviar. E também das comédias românticas do cinema. Inclusive uma das minhas preferidas é Blind Date (Encontro às escuras), do Blake Eduards, um craque no gênero cujo maior sucesso foi Víctor ou Victória, a história de um gangster que se apaixona por um travesti, o qual na verdade é uma vedete disfarçada para atrair público a um cabaré às voltas com dificuldades financeiras. Enredo narrado de maneira leve e sofisticada, na melhor tradição de Hollywood, desde Lubitch e Wilder.

Blind Date é mais recente, porém distante o bastante para apresentar um Bruce Willis com mais cabelo e menos do muito charme que vem colecionando desde então. Ela é a eternamente linda, sexy e talentosa Kim Bassinger. E o filme é um tesão. Imagine o cara precisar de uma acompanhante para fazer par com ele num jantar de negócios com empresários japoneses super tradicionais, acompanhados de suas esposas meio gueixas. Um colega de trabalho lhe arranja o telefone de uma garota gente boa que topa a parada. Porém, ele não sabe que a moça tem um problema neurológico, daqueles que potencializam o efeito do álcool no cérebro. Acontece que antes do jantar, por um contratempo, ela fica sozinha na sala de espera de um hospital com uma garrafa de uísque na mão, enquanto ele visita um amigo internado. Ele demora, ela se embriaga e está feita a confusão. É claro que os dois acabam se apaixonando, não sem antes derrubar tabus, desmentir verdades absolutas, trombar meia dúzia de carros e quebrar uma cama (o melhor do filme).

Impossível não se divertir com uma fita dessas. Que ainda adverte o espectador para os perigos de um encontro às escuras. Coisa que ignorei e acabei aceitando um convite para jantar com um empresário colega de academia de boxe do meu melhor amigo, que faz tempo vem mandando recadinhos insinuantes para mim. E como não iria aceitar sabendo que se tratava de um cinquentão bem educado e de porte atlético. Assim, depois de uma boa conversa por telefone, combinamos o encontro para o fim de semana seguinte. Fomos a um bistrô perto de casa, atendendo à minha conveniência. Diferente de qualquer restaurante no Leblon, no Empório Santa Fé você não topa com três mesas de gente conhecida logo na entrada. E um casal que está saindo junto pela primeira vez é facilmente reconhecido como tal. Além do mais a comida lá é gostosa e tem uma carta de vinhos bem legal, segundo os entendidos. Eu estava decidida a beber pouco e prestar mais atenção. Ele bebeu pouco também. Mas falou muito. Muito mesmo. Contou a infância, a juventude e a vida mais recente. Fazia digressões elaboradíssimas, ocasiões em que me lançava uma pergunta. Porém, eu mal ensaiava uma consideração era interrompida sem a menor cerimônia. E o empresário ainda perguntou se eu me incomodava de ser interrompida. Isso com um certo desdém, como se não gostar de ser interrompida fosse um capricho pueril.

Fazer o quê? Eu ali, de testa para um homem bonito, forte, inteligente, bem-sucedido que não esquecia por um momento disso tudo e só falava de si. E falava pelos cotovelos. Falava tanto que o jantar já estava quase terminando e eu não conseguira encaixar um assunto sequer. Foi quando ele pediu licença para ir ao banheiro, ficou em pé e, enquanto aproximava sua cadeira da mesa, olhou para mim e mandou um beijinho. Eu sorri e lhe disse que fosse tranquilo, pois eu iria aproveitar aquela oportunidade para falar um pouquinho de mim.

E assim terminou o meu blind date.

Tudo bem, o pior mesmo foi ouvir no dia seguinte do meu melhor amigo que o meu mal é não ter a mínima paciência. Sinceramente, não tem condições.

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2 comentários:

Francisco Costa disse...

Blind date, Mensagem para você...Acho mesmo que só em cinema...Leila e suas histórias engraçadíssimas...
Abraço.

oscar argollo disse...

Hoje, por acaso, ao te ver na televisão (e eu nem sabia...rs), entrevistando sobre cordel, pensei:...ué!...casou e mudou.....já voltou? (e eu nem sabia....rs). É óbvio que "googuei" vc....e achei o blog (e eu nem sabia...rs).

Tô meio "Lula"....."nun sei de nada"....rs

Li suas postagens e rolei de rir.....vc tá sem namorado e a "galera" anda doida pra te arrumar um....rsrs

Olha lá!....eu continuo casado, querendo morar lá no sítio, nas Terras Altas da Mantiqueira, há 1600 ms de altitude, ainda sem luz...e, portanto, sem as condições "básicas" para uma candidatura, ainda que vc more no meu coração eternamente.....rs

Ô sumida!...Me dê notícias....rs
oargollo@mls.com.br

Um beijo enorme...e se ainda estiver sem namorado - o que é um absurdo incompreensível - até o presente momento...dois beijos...com todo respeito....rs

oscar argollo