Para Augusto

O TriBoz fica na cabeceira da Lapa, e como tal se comporta. Não é mais uma casa de samba, como outras tantas e boas que proliferam nas transversais da Mem de Sá, a verdadeira coluna vertebral do bairro boêmio do Rio. Localizado na esquina da Rua Conde de Lages com a Rua Taylor, portanto mais para a Glória do que para o Centro da Cidade, o bar, que também tem nome de Centro Cultural Brasil-Austrália, é um lugar de Jazz e Bossa Nova.

Que novidade! Um programa mais leve, pra quem quer sair com os amigos, tomar um drinque e conversar, sem a azaração e a superlotação costumeiras dos bares daquela região nos fins de semana. E sem trânsito atravancado para os que vêm da Zona Sul. Mas com o charme de estar no Rio Antigo, de passear pelas balaustradas centenárias de ferro batido do Largo da Glória, sob as luminárias em estilo colonial, por entre o casario da redondeza, com suas fachadas de pedra de cantaria. Porque ir para este lado da cidade à noite já é parte do programa. Penetrar em suas ruas sombrias, reduto tradicional dos travestis que desfilam sobre os paralelepípedos úmidos de sereno a sua elegância indiscra, de humor barato e picardia afiada, é curtir, já no caminho, o folclore do lendário bairro carioca.

E faz bem quem vai de taxi, pois apesar de ter estacionamento rotativo bem próximo ao local, ninguém está livre de se deparar na volta com uma blitz da Lei Seca que anda rondando o Centro do Rio em qualquer dia da semana. E também ninguém merece encarar um bafômetro como anticlímax de um programa tão legal. Ainda mais sábado à noite, como a de ontem, quando fui encontrar amigos para ouvir o piano personalíssimo de Mávio Ceribelli junto com uma turma de bons músicos, e a canja de jovens cantoras que salpicavam a noite com brilhos na roupa e na voz.

O dono do TriBoz é o Mike Ryan, um músico australiano PhD em Etnomusicologia, pela Universidade de Sydney. Sua tese de doutorado foi sobre contribuições da música e cultura brasileiras para a Austrália, no período de 1971 a 1984. Pesquisa de campo realizada entre imigrantes brasileiros em Sydney. Mike mora desde 1991 na mesma Rua Taylor onde montou seu bar, foi professor da Escola de Música da UFRJ, que fica pertinho dali, e desenvolve programas sociais de oficina de músicas com a comunidade local.

Além disso, Mike é bom trompetista e cantor afinado, com suingue e tom aveludado na voz de tenor. Ele recebe pessoalmente cada freguês na entrada até a lotação da casa por volta de dez da noite. Depois, é aproveitar o som, mas sem fanatismos. Dá pra conversar à vontade durante os longos e gostosos sets de repertório variado entre standards americanos e o melhor da MPB. E a postura dos frequentadores é bem essa. Nada de psius dos aficionados de jazz. Mas também sem a irreverência estúpida do público de churrascaria. O TriBoz é um lugar elegante, com um bom ar-condicionado, serviço ágil, cardápio adequado (só frios), mesas e cadeiras confortáveis e decoração leve. Se eu tivesse que mexer em alguma coisa ali, diminuiria um pouco a luz. E só.

Por tudo isso, o programa foi um sucesso. Ao final da noitada, estávamos todos muito alegres por curtir um bom som, e satisfeitos em botar o papo em dia. Fomos embora prometendo voltar lá pra semana. Não sei se o faremos, mas nossa expressão foi sincera e o desejo mais do que justificado; pois quem trabalha de segunda a sexta, seu sábado não pode e não vai desperdiçar.


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2 comentários:

Ricardo Brito disse...

Leila, que bacana!
Já estou com votade de conhecer.
O TriBoz não poderia ter sido melhor apresentado.
Parabéns!
Beijão!
Ricardo Brito

Leila Richers disse...

Vai lá sim, Ricardo. Você, que é compositor e gosta de boa música, vai adorar
bjs,
Leila