O coração pode se regenerar !

“Não vou à festa hoje. Acordei machucada, com os olhos inchados e corpo doído; minha alma ralada já purga o afeto desfeito em inúmeras tentativas de se tornar amor. Não suportaria, com a moral assim surrada, ver seus olhos caçadores. De sentidos aguçados pela dor, rapidamente descobriria sua próxima presa para em seguida invejá-la, ainda que sabedora de seus prováveis futuros infortúnios.

E na festa haveria a contradança que não poderia aceitar com os sentimentos desse jeito estropiados pela memória de outras baladas de passos acertados, rostos colados e desejos prometidos que não se entrelaçariam na coreografia estéril de corações agora desencantados.

E se a tudo sobrevivesse, trazendo no rosto um sorriso simulador da indiferença postiça recorrente nos salões, ainda assim não teria fôlego para enfrentar a emoção de sentir nossos corpos compatíveis para em seguida experimentar a vertigem abismal da indiferença afiada do seu humor excêntrico.

Sinto uma tristeza imensa... “


Uma declaração como a do texto transcrito acima mostra um coração partido. O tom é exagerado, como é exagerada a emoção das pessoas normais no momento em que percebem que tudo acabou e a relação não tem volta. “Have a broken hart? Brake it again”, disse-me, um dia, um calejado conhecedor das dores do amor. Pois não é que ele estava absolutamente certo, como um vencedor de “O céu é o limite", de Jota Silvestre. Se ainda me restava alguma dúvida a respeito do cínico ditado anglo-saxão, dissipei-a ao ler no jornal de ontem o seguinte título: SUECOS DESAFIAM DOGMA E MOSTRAM QUE O CORAÇÃO PODE SE RENOVAR. A matéria, na página de Ciência do Globo, diz que foi quebrada a convicção da medicina de que o músculo cardíaco é incapaz de produzir novas células. Afirma ainda que cerca de metade delas são trocadas ao longo da vida, e conclui que o coração, diferentemente do que se imaginava, é capaz de se regenerar.

Desta forma, e respeitando a metáfora que associa o órgão vital à sede dos sentimentos, saúdo a todos os que não pouparam emoção ao longo da vida e, por intuição ou mesmo condição existencial, apaixonaram-se a valer. Por terem aproveitado ao máximo o potencial de recuperação das suas células afetivas, convoco-os a regozijar-se agora. Propondo ainda que, de cabeça erguida, digam aos que um dia os acusaram de ser volúveis como a roleta, que nesses tempos de pós-tudo a vida é mesmo assim; morre-se hoje mil vezes. E com a certeza de que terão amanhã o coração renovado, convido-os a cantar comigo o clássico de Cole Porter: Let’s do it, let’s fall in love”


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Um comentário:

Pinguim Gelado disse...

meu amor disse que não me queria mais em sua vida... Ela estava resolvida e não adiantou argumentar nem usar meu coração como álibe, dizendo que ele se partiria se ela me deixasse...
Quanto tempo demorará para serem trocadas cada célula que ela contaminou? Será que até o final da minha vida eu vou ter um novo coração? Estou sentio-o bater fraco e sem vontade... Logo ontem, Leila, que eu abri meu coração com todo o amor e carinho... Que eu postei uma declaração de todo o sentimento que me preenche o peito: "Existem pessoas que são magia encarnada... São donas de uma aura que magnetiza, envolve, atrai e dá medo... Eu, quando te vi, me senti assim... Era como olhar para algo irreal, algo encantado... Minha razão, tão acostumada à lógica e ao exato, teve pavor, mas uma parte de mim que eu não conhecia se rendeu incondicionalmente ao seu fascínio de mulher misteriosa... Você andava? Não lembro... Por que será que em minhas lembranças e visões, eu lhe visualizo como que flutuando... Seria por que sempre lhe vi como uma feiticeira ou uma Dríade, que é uma criatura que não pertence ao mundo dos Homens e, sendo assim, você não precisaria se arrastar penosamente? Meus ouvidos nunca escutaram os sons dos seus passos, e isso me faz acreditar ainda mais na sua natureza sobrenatural...
Eu sempre achei que tinha que "subir" para encontrar com você... Se eu pudesse descrever essa cena, eu narraria uma escada branca, você me esperando ansiosamente no topo dessa escadaria... Eu galgaria seus degraus com meu coração batendo descompassado e ao mesmo tempo feliz...
Quantas vezes eu me surpreendi perquirindo ao Universo quais foram os caminhos e peças, experiências, sorrisos e lágrimas que esculpiram quem você é... Suave e forte, naturalmente elegante... Atração que reluz sem fazer força para que assim seja... simplesmente você furta a luz de todo e qualquer ambiente, você suga, toma para si... Mas essa luz, dentro de você, é burilada, manipulada, purificada e devolvida, sendo emanada de você com nuances e colorações cintilantes que maravilham a todos que lhe conhecem... Sua ascendência sobre nós, singelos mortais, é exercida tão humilde e sutilmente que não existe revolta ou motim, vontade de conquistar liberdade, pois liberdade sem você é caminhar sem rumo por paragens escuras, meu amor...
Daria minha vida para poder receber um beijo seu, sentir o gosto dos seus lábios... Nutrir-me do mel da sua boca, sentir sua vida sendo infundida na minha, me fortalecendo e levantando dessa estrada cuja trilha eu me recusei a dar prosseguimento... Não quero perder você de vista, Princesa... Não posso desistir, pois inevitavelmente você continuará crescendo e caminhando, e não posso imaginá-la se distanciando de mim..."